quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim,
não sei se eu sinto demais ou de menos,
seja como for,
a vida é tão interessante
que é a todos os momentos.

A vida chega a doer, a cortar, a rolar, a ranger,
a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão...
de sair para fora de todas as lógicas,
de todas as sacadas,
e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.”

(Fernando Pessoa, in Desassossego)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

18/11/2004

Ao assistir o filme, lembranças invadiram o ambiente sem pedir licença. Isso não é música para criança ouvir. Isso não se deve fazer. Isso não se deve olhar. Isso não se deve sentir. Isso não se deve pensar. Irromper, essa é a ordem. Incessantemente, com todos os dissabores e sabores que rodeiam. Conseguir falar da sua morte sem sentir a dor de quem não pôde falar por muito tempo. Não é a intenção assustar ou chocar. Mas tornar comum. Coisas não faladas, não sentidas, tomam proporções gigantescas. Acabam por não caber em nós. E o que não se usa, azeda. Vomitar. E gozar da liberdade e alívio do depois.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

BÁLSAMOS

Quero um bálsamo para me livrar de uma dor que não é minha, mas me atinge. Bálsamo com cheiro de perfume de criança e gosto de uva verde, como eu sou: ácida e doce. Faço de conta que não é comigo. Brinco de esconde-esconde com minha realidade e influências. Não tem jeito. A regra do jogo diz que no final da brincadeira, todos aparecem, se mostram. E agora? O que fazer? Continuar a brincadeira ou crescer sem perder “la ternura”? Pode ser os dois????? Não consigo me dicotomizar. Gozo em ser toda, em ser completa com minhas falhas. Gelo na barriga ao pensar. Mas no momento, preciso encontrar meu sono. Ter um sonho lindo cheio de sensações, com materiais oníricos repletos de um futuro próximo. Vontades. Muitas vontades. E o que mais gosto de fazer na vida??? Dar risadas e devanear... larará!!!
(T.)

UM DIA (PELO OCO DOS ARRECIFES)

Criando intimidade com o lugar. Fazendo com que o medo dê espaço à fascinação. Saio sem destino. Sem saber onde estou. Só fui indo. Procurando qualquer coisa. O medo de me perder derreteu com o calor do asfalto. Lembranças de músicas invadiam minha mente e meus passos. E não tinha ninguém. Literalmente sozinha no meio do mundo todo. E no presídio sampleado, respirar arte e cuspir capitalismo. Bebam sua água com cólera, às margens do Capibaribe. Onde os peixes habitam fora do rio, oferecendo um colorido triste e melancólico, dentro de sacos plásticos, custando dois reais. Lua grande. Redonda. Suspensa. Comprimindo as quatro em uma só. Clareando com sutileza à noite esperada, onde esperanças se esvaíram com a brisa marítima que ladeava o local. Iceberg na barriga. Nenhuma resposta. Só uma resposta. Indiferença que faz diferença. Não gosto que sejam assim comigo. Amanhã eu volto a pensar sobre isso. Amanhã, porque já tem passado. Não posso ser egoísta. E depois eu confirmo meus achismos baratos, imbuídos num título de que nada adianta, quando eu sou o objeto e são os meus sentidos e sentimentos que estão envolvidos. Espera... só um instante... como se fosse possível controlar pensamento. Sejam bem-vindos ao País das Maravilhas, Fantasias e Impossibilidades. Faz fronteira com o País das Desilusões. E ao acordar, o pesadelo de voltar para o cotidiano se inicia e me amedronta. A volta literal.
29/11/2004 00:51

(T.)

MOMENTO FÚTIL - CABELOS

Nada como um bom corte nos cabelos para aliviar as tensões...
Irei ficar sem cabelos???
(T.)

sábado, 14 de agosto de 2010

Super-lupa

Quando em alguns momentos, nos afastamos de pessoas, cousas ou mesmo situações, passamos a enxergá-las com uma super-lupa. (T.)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui pra frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade (1893-1945)



Hasta...
(T.)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

PEQUENA INTRODUÇÃO À AFROASCENDÊNCIA DO BRASIL


Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.
Escola Experimental de Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial

Os Afrodescendentes constituem um segmento muito vasto da popula-ção Brasileira. Em particular nas regiões onde vigorou mais inicialmente a co-lonização. Isto, em particular, porque, quando falamos de Afrodescendentes, não podemos em absoluto nos limitar ao segmento Afrodescendente dos Ne-gros Sudaneses imigrados como cativos pelo tráfico de escravos, e sua des-cendência Brasileira Mulata e Cafusa. Afrodescendentes são também os grupos e tipos étnicos de povos e mestiços Africanos não Sudaneses, especifi-camente do Norte da África, do Saara, e do Magreb.
As raízes afroascendentes do Brasil em muito transcendem assim à contribuição fundamental dos Negros Sudaneses, seqüestrados, cativos, e escravizados para o comércio e para as sociedades escravistas. Primeiro para o tráfico transsaariano, e para o Oriente, e Europa; depois, para o tráfico transa-tlântico de escravos, para as Américas.
Assim considerando, quem não é diretamente Afrodescendente no Bra-sil? Os Lusitanos ‘puros’, talvez; na medida em que isto seja concebível; em especial os que não descendem dos que passaram pela África. Os imigrantes Alemães, Poloneses, Nipônicos do século XIX, os imigrantes Coreanos e Boli-vianos do Século XX; alguns outros imigrantes do Norte Europeu... Os imigrantes Italianos, ainda que os Italianos sempre tenham existido em íntima relação com a África, em particular as suas populações meridionais, mas igualmente do Veneto...
Todos esses, não obstante, quando no Brasil aportaram, imergiram nu-ma realidade fortemente afrodescendente. Ou seja, uma realidade social e his-tórica em que a afrodescendência se espalhava; primeiramente pela própria elite colonial; na medida em que esta era composta de um modo importante por indivíduos e grupos que já vinham para o Brasil provenientes do colonialismo Europeu Lusitano na África. Gerações de colonialismo Lusitano na África cria-ram uma elite colonial mestiça, Lusitano-Africana, que se transfere para o Bra-sil, ligada aos negócios do açúcar, ao tráfico de escravos, e ao comércio dos produtos coloniais. Claro que, ao lado dessas um segmento com níveis varia-dos de ‘pureza’ Lusitana, na medida em que algo assim se possa conceber.

As relações das sociedades Européias com a África colocaram estas so-ciedades Européias em contato com um rico e histórico melting pot étnico e cultural Africano, do qual os Negros Sudaneses participaram, e participam de um modo fundamental, mas do qual eles não são naturalmente os únicos constituintes. O Norte da África, o Saara, o Magreb, o Sudão – Oriental e Ocidental --, perfizeram um imenso ecótone cultural ao longo dos séculos. Neste interagiram e miscigenaram-se Fenícios, Gregos, Hebreus, Romanos, Berberes, Sudaneses, Árabes, Mamelucos... E, a seguir, Portugueses, Espanhóis, Ingleses, Franceses, Belgas... Dentre outros.
O melting pot étnico e cultural Africano miscigenou, ao longo do tempo, o elemento Berbere com o elemento Negro, Sudanês. Os Berberes são um conjunto de povos nômades do Deserto do Saara, como os Tuaregs. Miscigenados com os Sudaneses -- de pele escura, melanodérmicos, da África Subsaariana, do Sudão --, os Berberes têm uma população que varia, em termos de cor da pele, num espectro que vai da pele de cor clara, até a pele Negra. Os Berberes habitam o Deserto do Saara, e as regiões ao Norte e Noroeste do Deserto, dos Montes Atlas, em particular, da África Sobressaariana, a África do Norte.
Os Negros, Sudaneses, habitam originalmente o Sudão -- Oriental e O-cidental --, e a floresta equatorial. O Sudão é uma faixa geográfica, de Leste a Oeste, ao Sul do Deserto do Saara, e que, por seu turno, limita-se ao Sul com a floresta tropical.
A partir do Século VIII, segundo Bonvill (), grandes levas de Árabes co-meçaram a invadir o Saara, a partir do Egito, e a se estabelecerem no Saara e adjacências. Ao longo do tempo, inevitavelmente, os Árabes, miscigenaram-se com os Berberes. Miscigenação da qual resultam os Mouros – pejorativamen-te denominado, desta forma, na ótica Européia.
Descendente assim do Berbere, o Mouro herda e compartilha caracte-rísticas fenotípicas de cor da pele. Em termos de pele, portanto, o Mouro pode variar num espectro de pigmentação que vai desde a pele de tonalidade clara, até a pele intensamente escura, melanodérmica.
O Árabe miscigenou-se, também, com mulheres Sudanesas, Negras; miscigenação da qual resulta o Mulato – especificamente Africano, e resultan-te, portanto, da miscigenação de pai Árabe com mãe Negra, Sudanesa.
Com a expansão do Islã, e do Império Turco Otomano, veio para e se espalharam pela África os Mamelucos.
Os Mamelucos resultam da miscigenação de Árabes com Turcos.
Os Turcos são de origem Mongólica. E emigraram da Mongólia, sua ter-ra natal. Passaram pela China, e se estabeleceram na região da Ásia Menor onde hoje é a Turquia. O processo da miscigenação que gera o Mameluco se iniciou quando os Árabes escravizavam crianças Turcas, na Península Anatólica, para treiná-las militarmente e constituí-las como uma guarda especial de seus dirigentes.
Os Mamelucos, termo que significa escravizados, se constituíram assim como a guarda dos dirigentes Islâmicos. E, logo, como uma casta que ganhou poder, e se espalhou por todo o Islã. No Egito, constituíram um Sultanato Ma-meluco, e espalharam-se pelo Saara e adjacências, acompanhando a propa-gação do Islã.

De modo que, dentre outros, temos na África -- no ecótone e melting pot interétnico e intercultural em que a África se constitui, mormente a África Oci-dental, no Magreb, na África do Norte, no Saara, e no Sudão --, a presença do
(1) Negro Sudanês, em maior ou menor proporção, com diversos grupos étni-cos. Temos, também, a presença dos
(2) Berberes, mais ou menos melanodérmicos; a presença dos
(3) Mouros, dos
(4) Mulatos, e dos
(5) Mamelucos. Da mesma forma que temos a presença dos
(6) Semitas Africanos, Árabes e Judeus – trazidos intensamente para a Áfri-ca Ocidental com a popragação do Islã, mas de presença ainda mais remota na África. A estes precisamos acrescentar os
(7) Turcos, que se disseminaram com a propagação do Império Turco Otoma-no. E uma significativa fração de
(8) renegados Europeus, que escaparam para a África, fugindo dos conflitos e das perseguições na Europa.
A imigração consistente de renegados Europeus para a África consoli-dou-se com a débâcle e conquista da Andaluzia, e a conseqüente expulsão de Mouros Árabes e Judeus, de Árabes e Judeus da Ibéria Andaluz.
A Andaluzia, na verdade, foi um enclave Africano no território que, pos-teriormente, viria a se constituir o Sul da Europa. A civilização Andaluza, que vigorou entre o Século VIII e o Século XV, foi uma civilização composta por Árabes, Judeus, e descendentes Católicos do Império Romano. Sob norma Árabe, a Andaluzia se regia pelo princípio Islâmico da Dhyma, segundo o qual o Muçulmano se propõe a proteger Cristãos e Judeus, uma vez que eles são povos do Livro.
A Andaluzia se constituiu não só como uma modelo de tolerância religiosa, étnica e cultural – um modelo para a contemporaneidade --, mas como a mediação fundamental que permitiu a passagem para o Ocidente do conhecimento do Império Grego, como também do conhecimento do Oriente.
A decadência da Andaluzia ensejou a sua invasão e dominação pelos reinos Católicos do Norte Europeu. Nem a convocação dos parentes Africanos Magrebinos, do Marrocos, foi suficiente para conter a sua queda e conquista. Os Árabes e Judeus expulsos da Andaluzia pelos reinos Católicos do Norte Europeu, sob o comando de Fernando e Isabel, ele de Aragão, ela de Castela, e de D. Manuel, de Portugal, emigraram em grande parte para a África Norte Ocidental, para o Egito, para a Turquia, e para o Novo Mundo.

Encontramos os mestiços resultantes deste melt poting étnico e cultural Africano no âmbito da população Brasileira, para a formação da qual contribuí-ram de modo importante. Encontramos em grandes nu meros os seus descen-dentes os seus descendentes na população Brasileira. Em particular nas regiões que sofreram mais inicial e intensamente o processo da colonização.
Sabemos bem como chegaram até nós os Sudaneses Negros escravi-zados. Mas e estes povos e mestiços do Saara, do Magreb, e do Norte da Áfri-ca?
Emigraram espontaneamente para o Brasil? Emigraram com o tráfico dos Negros Sudaneses escravizados? Com o comércio colonial, com o qual estavam envolvidos junto aos Portugueses? Emigraram como capatazes, ad-ministradores e seguranças da massa de Sudaneses escravizados? Como mi-lícias dos senhores feudais? ...
O fato é que a afrodescendência da população e das culturas Brasileiras é muito mais variada do que as interpretações que a vêem como limitada à contribuição de nosso importante segmento descendente dos Sudaneses Negros seqüestrados da África e imigrados escravizados.
Destes descendemos de um modo importante. Da mesma forma que descendemos de Berberes, de Mouros, de Mulatos Africanos, de Mamelu-cos Africanos, de Semitas Africanos, de Turcos, e de renegados Europeus Africanos e de sua descendência.
Quase todos, de uma forma ou de outra, encontram um denominador comum, e estereotípico, no Mouro. Da mesma forma que como Mouros eram entendidos os Africanos que resistiram à invasão da África, do Marrocos, e do Magreb pelas tropas européias; representadas, em particular, pela fatídica em-presa de invasão concebida e desastradamente perpetrada por D. Sebastião, de Portugal, em 1578.

Desta forma, quando examinamos a afroascendência do Brasil, consta-tamos um quadro muito mais diversificado de nossa afrodescendência. Por mais importante e interessante, que seja a contribuição para nossa afrodes-cendência da população Sudanesa, dos Negros imigrados à força depois do seqüestro, da cativação, e de serem constituídos como escravos, e com tais traficados.
Mesmo as condições dos Sudaneses seqüestrados em suas terras, e constituídos como escravos, e emigrados à força para o Brasil, por exemplo, carecem de serem compreendidas no contexto próprio das histórias, das soci-edades, das culturas e interações do Saara, do Magreb, do Marrocos, e do Norte da África; de seus povos e tipos étnicos.
Não se pode negligenciar a importância da contribuição dos povos Su-daneses mesmo para a constituição de povos e etnias do Saara, do Magreb e do Norte da África, como os Berberes, os Mouros, e os Mulatos Africanos. Não se pode negligenciar o comércio do Sudão, comércio de Ouro, e outros produ-tos, através do Saara, com o Norte e extremo Oriental da África; com o Magreb, e alhures. Da mesma forma que não se pode negligenciar a belicosidade genocida do Marrocos, do Norte da África e da Europa para com o Sudão. O papel dos Norte Africanos, dos Magrebinos e Saarianos, na preação de Suda-neses para a escravização, e para o tráfico de Sudaneses escravizados. Mas evidentemente que o seu contingente subsaariano, Sudanês não é o único constituinte da múltipla e variada rede de povos e de mestiçagens da África Norte Ocidental, do Magreb e do Saara.

Mas por que habitualmente se costuma reduzir de modo tão pertinaz a consciência de nossa afroascendencia apenas aos Negros Sudaneses?
Por motivos ideológicos, naturalmente...
Sabe Deus...
Pergunte a D. Sebastião...
Acredito que não é muito dizer que a exclusão no Brasil pode ser enten-dida como a vingança de D. Sebastião...
E, definitivamente, em termos de afrodescendência, a exclusão no Brasil não é apenas a exclusão dos Sudaneses escravizados e de seus descendentes – ainda que estes tenham sofrido a brutalidade sem par da preação, do seqüestro, e da escravização, da vida e trabalho escravos. Mas a exclusão no Brasil é, igualmente, a exclusão e a alienação de Mouros, de Berberes, de Mulatos Africanos – e Brasileiros --, de Mamelucos Africanos – e Brasileiros. De Semitas Africanos, de renegados Europeus africanizados.

Significativamente, todos estes faziam parte do exército Mouro de Abd El-Malek que resistiu a D. Sebastião, e trucidou-o. Que resistiu à sanha geno-cida da Europa renascentista com relação à África, que só antecipava o que viria então por mais trezentos anos de futuro.

Ou seja, tínhamos, no período colonial Brasileiro, uma massa de des-cendentes de Africanos, Negros Sudaneses, e não; Saarianos, Magrebinos, Norte Africanos, que era muito conveniente para as tarefas coloniais e demo-gráficas, e para a guerra; mas que estaria excluída, naturalmente, dos resulta-dos da empresa colonial.
Uma massa de descendentes de Africanos, Sudaneses e não Sudane-ses, com relação à qual uma imensa e sistemática e duradoura operação ideo-lógica precisava ser encetada. Para que, em particular, não desenvolvessem uma consciência coletiva de si.
Temos mais conhecimento das operações práticas – entre dois cocos: pedra – e ideológicas para impedir que a coletividade dos Negros Sudaneses tomasse consciência de si, e das possibilidades de sua ação. Certamente te-remos ainda que desvendar as astuciosas medidas práticas e operações ideo-lógicas para impedir que os Mouros – lato sensu – elaborassem a sua consciência coletiva...
Era bastante particular a situação do Mouro no Brasil em relação à me-trópole, e às elites coloniais.
Os Mouros da Andaluzia, e, em especial, do Norte da África sempre fo-ram o grande terror para o Sul da Europa. Os Mouros pirateavam os navios Europeus, escravizavam os seus tripulantes e passageiros, eram igualmente escravizados... A queda da Andaluzia foi retardada pela ajuda dos Mouros do Marrocos, que, por duas vezes, vieram em socorro de seus parentes. Tendo em uma das vezes atacado e saqueado a cidade de Santiago de Compostela. Roubaram todos os sinos, para que fossem fundidos, e o ferro reutilizado na confecção de lamparinas para suas mesquitas. O paroxismo maior foi quando o tresloucado D. Sebastião decidiu operacionalizar um desvario que se lhe havia sido incutido ao longo de seu crescimento: invadir o Marrocos, para se tornar o Rei dos Mouros.
Em 1578, liderando um relutante exército Europeu, D. Sebastião, invadiu o Marrocos. Efetivamente, não tinha a mínima idéia do que lá encontraria, nem do que era uma guerra no deserto, e de quem eram e de quais condições dispunha o inimigo. Pensava tratar-se de um passeio militar, do qual sairia rapidamente vitorioso. Seu exército, e ele próprio, foram trucidados em seis horas, segundo Bonvill (). O que comoveu e assustou Portugal e a Europa. Em particular com a posterior sangria de recursos para o pagamento dos resgates de nobres e eclesiásticos, cuidadosamente aprisionados e reservados pelos Mouros para suprir um riquíssimo negócio.
Os Mouros eram, assim, para Portugal -- da mesma forma que para o Sul da Europa, e para a Europa como um todo --, um perigo, e um inimigo por excelência.

Para o Brasil colonial não se deslocou, apenas, naturalmente, uma elite colonial e os escravos que eles usavam. Em primeiro lugar é importante consi-derar que esta ‘elite’ já era também uma ‘elite’ colonial africana, africanizada. Na medida em que em grande parte se constituía pela elite Lusitana da empre-sa colonial na África. Já era uma ‘elite’ africanizada. Africanizada étnicamente e africanizada culturalmente. Africanizada culturamente, em particular, na cultura do colonialismo. É preciso considerar esta africanidade colonial das elites coloniais e pós coloniais Brasileiras. Esta africanidade colonial responde por importantes de seus aspectos.
Mas deslocou-se, ou foi deslocada, igualmente, para o Brasil uma gran-de quantidade de Mouros, de Berberes, de Mamelucos Africanos, de Mulatos Africanos, de Semitas Africanos, e de renegados Europeus africanizados; além dos Sudaneses objetos do comércio de escravos.
Todos eles ajudavam a compor as quantidades da população de um pa-ís que a elite colonial Lusitana, e Lusitana Africanizada, não poderia suprir e compor.
Naturalmente que miscigenações significativas e diversas vão ocorrer no Brasil entre todos estes elementos, e com o elemento Lusitano, e Europeu não Lusitano. Gerando, em particular, os mestiços Brasileiros. Como o Mameluco Brasileiro – resultante da miscigenação do Mameluco Africano com o Ameríndio Brasileiro (miscigenação, creio, responsável pelos belos, enormes e melancólicos olhos de certos tipos do Maranhão e do Pará...). O Mulato Brasileiro, resultante da miscigenação do Mulato Africano, ou do Sudanês Negro Africano com o Branco Lusitano, ou com o Branco Europeu não Lusitano. O Caboclo... O Curiboca, ou Cafuso, resultante da miscigenação do Mulato ou do Sudanês Africano com o Ameríndio Brasileiro...
Claro que não se pode advogar tipos étnicos puros. Mas tipos originários e ideais, em vários graus de miscigenação.

No Brasil, o Mouro -- os tipos étnicos Africanos e os mestiços Africanos mudam de figura. E de função.
O grande perigo, não obstante, seria o de ele recuperar e desenvolver a auto consciência coletiva. O grande perigo seria de ele resgatar a sua história, e historicidade.
No Brasil colonial, o problema não eram as possibilidades dos ataques vin dos do Norte da África, ou dos Mouros Andaluzes. No Brasil o problema era o Indígena Ameríndio, eram as guerras contra os indígenas, e os esforços para a escravização do indígena. No Brasil colonial, o problema eram as guerras com os Europeus não lusitanos. E era o problema da administração da opres-são contra a massa dos trabalhadores Sudaneses escravizados.
No enfrentamento destes problemas era limitada, naturalmente, a parti-cipação dos indígenas, e a participação dos Sudaneses...
De modo que os Mouros, os Berberes, os Mamelucos e Mulatos Africa-nos: os mestiços Norte Africanos, Magrebinos e Saarianos, eram o grupo de eleição por excelência.
Desde que fossem tomadas as precauções práticas e ideológicas contra a sua tomada de consciência coletiva de si. E desde que se cuidasse das preo-cupações práticas e ideológicas concernentes à administração da sua exclusão dos benefícios da empresa de seus “aliados”, e senhores. Para a qual deles se esperava que trabalhassem com afinco e denodo.
Isso não era muito difícil. Uma vez que, apesar de povos fortes e inten-samente guerreiros, estavam na ausência de seu ambiente natural. Além do mais, mestiços, dispunham de elementos de etnia Sudanesa, elementos étni-cos Semítico Africanos, sobretudo Árabes; elementos de etnia Berbere, mas numa mistura que não permitia facilmente uma unificação e o desenvolvimento de uma auto consciência coletiva.
O Berbere não é originalmente Árabe, nem originalmente Muçulmano. E guarda os profundos ressentimentos do processo histórico da colonização pe-los Árabes. Sua adesão ao Islamismo, enquanto religião característica de um grupo étnico é inconsistente. Da mesma forma ocorre com o Mouro, que resulta da miscigenação do Berbere com o Árabe. Por isso não há muito que pensar em unidade étnica, religiosa ou cultural dos mestiços Africanos. Na verdade, o seu maior elemento de identificação passou a ser mesmo a cultura Brasileira...
Os elementos de unificação étnica dos mestiços Norte Africanos, Ma-grebinos e Saarianos, os elementos de desenvolvimento de sua auto consciência coletiva não tinham uma consistência significativa. O que permitiu ao colonialista facilmente controlá-los e usá-los de modo relativamente fácil. E ainda, de modo relativamente fácil, excluí-los dos benefícios da empresa colonial.
A realidade, entretanto, é que se cria uma contradição política, uma con-tradição sociológica, fundada na contradição demográfica.
A da presença de uma elite Européia, ou Européia africanizada, que controla e tem o poder, os recursos e as armas; mas que não é suficiente para povoar o país; e a presença da massa de mestiços e tipos menos mestiçados, Afrodescendentes e Brasileiros, que majoritariamente povoa efetivamente o país, mas que é originariamente despossuída, e que sofre um ataque político sistemático, prático e ideológico, para que continue sistematicamente a sê-lo. Naturalmente que é uma premissa a exclusão sistemática, e ativa -- por vias prática, políticas e ideológicas, constituídas em mecanismos culturais --, destes segmentos do usufruto dos resultados da empresa colonial, e mesmo da em-presa pós-colonial. Na medida em que uma elite colonialista ‘nacional’ substituiu as elites colonialistas metropolitanas depois da Independência, e depois mesmo da proclamação da República. República incompleta, como diria Raimundo Faoro.
Assim é que o ataque genocida da Europa à África, e ao Brasil, se per-petua no Brasil, com toda a sua astúcia e sanha genocida. Trata-se de excluir a África, de excluir os africanogênicos, de excluir os nativos e mestiços Brasileiros; de usar e excluir, mesmo que esta exclusão signifique simplesmente o extermínio genocida, por vias da violência institucionalizada, ou não.
Certamente que as medidas práticas e operações ideológicas, que ainda hoje atuam a todo pano, e que configuram o coração ideológico e cultural da exclusão no Brasil fizeram, e fazem parte importante do arsenal da guerra psicológica da colonização, e de perpetuação da desigualdade na sociedade Brasileira.




P.S.: Esse texto é do Afonso e eu precisava postá-lo aqui hoje. Por isso peço toda "licença poética" para tal feito.

Axé a todos!!!

13 DE MAIO NÃO É DIA DE NEGRO!!!


Quilombo Axé!!!
Colofé Olorum!!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

NÃO DOU CARONA

Não sou igual a você. Não sou e nem quero ser. Não me pareço. Não concordo com suas idéias. Vivemos em extremos. Qual é o melhor ou pior, não sei. Cada uma sabe do seu. Conversas pré-estabelecidas, não quero mais. Já sei onde vai dar. Muda!!! Para de me copiar. Não sou exemplo pra ninguém. A não ser pra mim. O meu carro já está lotado comigo mesma. Não dá pra te dar carona. Pensa com teus próprios pés. Anda com a tua cabeça. Eles estão aí pra isso. Não só pra tinta e sapatos bonitos. Confia em você, mas confia de verdade. Sorria, quando estiver com vontade. Aprenda a lidar com as concretudes e maleabilidades. Grita! Chora! Esperneia! Bate! Se demonstre! Você está cada vez mais doente. Ele já foi. Ela não vai existir pra sempre. E aí? Quem vai te proteger? Tua mente está abarrotada de achismos baratos. Pergunta o que tiver possibilidade de resposta. Mesmo que demore o tempo do mundo. Chega de ser idiota! Chega de falsa política. Fé e jargões prostituídos. E tudo isso... é porque eu te amo.
14/09/2004 00:17
(T.)


Escrito antigo, mas que cabe muito bem nesse instante em que a hermnêutica da minha vida e dos que eu gosto volta para um ponto já conhecido. Na verdade não tem nada de novo... mesma história, mesmos sentimentos, até os mesmos atores. Mas mesmo assim insistimos em nos surpreender.Ou fingir que nos surpreendemos. As condições são tão demasiadamente humanas que acabamos por enfeitá-las com lirísmos e alegorias, resultando por muitas vezes num emaranhado desgrenhado de coisas sem sentido ou mesmo sem substância. É isso...


Hasta...